terça-feira, 12 de junho de 2012

As flores e a magia do amor




"Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar?
Amar e esquecer, amar e malamar, amar, desamar, amar, sempre, e até de olhos vidrados, amar?"
Carlos Drummond de Andrade


Ah! o amor... por mais que se tente explicá-lo fica sempre a sensação de que é impossível entendê-lo. A simples visão do ser amado pode provocar uma série de acontecimentos no organismo, que os cientistas chamam de "processo bioquímico": o coração dispara, as mãos suam, dá vontade de falar sem parar, as pernas ficam meio bambas, a fome desaparece, as pupilas se dilatam e é preciso suspirar profundamente para respirar melhor". Será que a flecha do cupido poderia explicar melhor este processo mágico?

Talvez, mas o certo é que poucas coisas podem estar tão ligadas ao amor e ao desejo como as flores. Quer ver?

A flor é a própria essência de uma planta e representa a maior concentração de sua força vital, porque é nela que a planta deposita todo o potencial que possui para garantir sua reprodução. Por definição, a flor é o órgão de reprodução sexuada das plantas superiores e em cada uma, há um ovário cercado de outras estruturas, como os órgãos masculinos ou estames, que produzem o pólen. Formas, cores e perfumes são os recursos que a planta concentra nas flores para garantir a sedução de insetos e até pássaros polinizadores, fundamentais para que a reprodução aconteça. Em busca do néctar, os polinizadores, atraídos e seduzidos pela flor, cumprem a função de unir os órgãos masculinos e femininos, gerando um novo ser. Como se vê, é na flor que tudo acontece.

Em algumas plantas, a flor é insignificante do ponto de vista da sedução e, para solucionar este problema, todo poder de cores e formas exuberantes é depositado nas brácteas que envolvem as verdadeiras flores. É o caso da primavera (Bougainvillea) e do antúrio (Anthurium andreanum), por exemplo.

Tudo por amor

Dizem que as mulheres da Antigüidade conheciam como ninguém o poder das flores se o assunto era amor. Quando não eram usadas em banhos, perfumes e máscaras de beleza, as flores viravam ingrediente de chás e porções mágicas. A Vinca minor, também chamada "violeta-das-feiticeiras", por exemplo, era usada em porções do amor: pulverizada juntamente com minhocas e servida com carne, teria o poder mágico de despertar a centelha do amor.

No que diz respeito às cores, o assunto se torna ainda mais interessante: as cores - já está provado - são capazes de despertar reações tanto emocionais quanto fisiológicas, pode impulsionar raiva ou paixão, excitar ou relaxar, provocar o apetite ou diminuí-lo. As emoções fortes, que disparam o coração (como a paixão e o desejo) estão associadas às cores intensas. A exposição à cor vermelha, por exemplo, pode aumentar o ritmo cardíaco, acelerar a respiração e impulsionar o metabolismo, aumentando as secreções glandulares Não é à toa que a paixão é simbolizada por corações vermelhos! Por aí dá para entender porque há tanta sedução num ramalhete de rosas vermelhas ou num arranjo com rubros e brilhantes antúrios.

Tons como o laranja e o amarelo-ouro também têm efeito excitante e estimulante, inclusive do apetite (já reparou que a maioria das lanchonetes usam tons de vermelho, laranja e amarelo?). Efeitos inversos são obtidos com cores suaves ou as chamadas "cores frias", como azul, violeta e e tons de verde próximos do azul. Elas provocam uma sensação de relaxamento, reduzindo o ritmo metabólico, baixando a pressão arterial, diminuindo o ritmo cardíaco e tornando a respiração mais lenta - é como se o corpo estivesse se preparando para adormecer.

E se a sedução depender do perfume para despertar a paixão, as flores podem oferecer um "leque de opções"! O ser humano possui cerca de 25 milhões de células olfativas - algo que não pode ser desprezado, apesar do olfato humano perder de longe para qualquer animal (para algumas espécies animais, o olfato é uma questão de vida ou morte). Todo odor é capaz de provocar um sentimento: desperta a fome, provoca a atração ou repulsa por algo ou alguém, traz de volta lembranças de um passado (feliz ou não), sugere alegria e bem-estar ou tristeza e amargura profunda. Em resumo: o ato de cheirar está intimimamente ligado a emocionar-se, sempre.

Imagine agora o que é possível conseguir ao combinarmos formas, perfumes, cores e poder de sedução? Já imaginou? Pois esteja certo que poucas coisas podem se igualar às flores - nelas, a natureza concentrou estes poderes de forma delicada, harmônica, artística... quase mágica.

Texto de: Rose Aielo Blanco

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