quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Cerejeiras: admire a beleza e a magia efêmera de suas flores


Fonte: Bosn Fluidos

A florada das cerejeiras no jardim Korakuen, em Okayama

Para saudar a chegada da primavera, nem mesmo a nudez dos galhos secos do inverno intimidam a flor de cerejeira. Pelo contrário. Em poucos dias, é neles que surge uma volumosa cabeleira de flores brancas e rosadas.

Todos os anos, entre o final de março e de abril, pequeninas flores de cerejeiras sorriem para o povo japonês: é hora de louvar sua chegada com a nova estação. Como a visita será breve, famílias e pessoas de todas as idades se preparam antecipadamente para as festas em sua homenagem. A atenção se volta aos jornais e emissoras de TV e rádio, que divulgam com entusiasmo detalhes sobre as floradas e suas localidades.

Símbolo da felicidade, a flor de cerejeira, ou sakurá, como é conhecida no Japão, integra crenças religiosas a tradições familiares. Em casamentos ou ocasiões festivas, por exemplo, muitas famílias usam suas pétalas para fazer chás e atrair boa sorte. Ou então se deliciam com o sakuramochi, doce de feijão feito com a folha de cerejeira temperada com sal. O Hanami também é entendido como uma forma de purificar a alma e aliviar o espírito de quem sofre.

A singela flor serve ainda de inspiração às mais diversas formas de arte, como a moda, a música, a pintura e até os mangás, famosos quadrinhos japoneses. Mas ela também tem seu lado trágico. Segundo Célia Sakurai, autora do livro Os Japoneses (Editora Contexto), no popular teatro japonês Kabuki, cujos atores dançam e cantam com dramaticidade tendo o rosto coberto por uma maquiagem altamente expressiva, quando surge um cenário com pétalas de sakurá é sinal de que um vilão está em vias de agir ou de que uma tragédia se anuncia. A associação se explica: a flor simboliza uma natureza transitória e desde o século 8 está ligada aos samurais, cuja vida era igualmente efêmera. “Esses guerreiros saíam para as batalhas prontos a sacrificar a vida, dedicada aos senhores feudais, que dominavam o país naqueles tempos”, explica Tokuyoshi Ueda, vice-presidente da Associação das Cerejeiras do Parque do Carmo, de São Paulo.

Para amenizar a saudade da terra natal, os imigrantes japoneses que chegaram ao Brasil no início do século passado trouxeram centenas de variedades de mudas de cerejeira. As tentativas de cultivo em diferentes tipos de solo foram frustradas por causa do calor comum nas terras brasileiras, que não favorece o desenvolvimento da espécie, afeita a baixas temperaturas. Tempos depois, por volta da década de 70, uma variedade híbrida finalmente se aclimatou e espalhou árvores por várias cidades brasileiras, especialmente no estado de São Paulo.

No Brasil, diferentemente do que acontece nos Estados Unidos e no Japão, a floração ocorre entre julho e setembro, por causa das condições climáticas – nosso inverno, mais quente, tem temperaturas próximas à primavera naqueles países. É também por esse motivo que poucas variedades de cerejeira conseguiram se desenvolver por aqui. Apenas espécies como Himalaia, Yukiwari e Okinawa se adaptaram bem no país, pois vêm de regiões do Japão em que dominam características climáticas semelhantes às de certas partes do Brasil. Vale lembrar que há mais de 200 espécies de cerejeira no Japão, diferenciadas pelo tom das flores – que vai do vermelho ao branco, passando por pêssego e rosa – e pelo formato e quantidades de pétalas.

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