segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Romã: ela dá mais do que sorte!

Fonte: Ed. Abril


A fruta que alimenta simpatias populares e decora mesas em diversas celebrações, ainda mais no Reveillon, agora é festejada até em laboratórios, graças à sua incrível capacidade de afastar doenças cardiovasculares e tumores.


Foi no quintal de sua casa, em Sorocaba, no interior paulista, que a menina Fernanda Archilla Jardini descobriu sua vocação para cientista. Fascinada com um pé de romã, ela tinha uns 12 anos quando cismou que, sob a casca, a fruta escondia atributos fantásticos. Passadas quase duas décadas, já farmacêutica e a caminho do doutorado, Fernanda foi incentivada por seu orientador na Universidade de São Paulo, o professor Jorge Mancini — um dos grandes expoentes nacionais na área da bioquímica —, a investigar a fantasia da infância. Isso já lhe rendeu muito trabalho. Quer dizer, trabalhos científicos. Um deles, por sinal, foi premiado no XX Congresso Brasileiro de Ciências e Tecnologia de Alimentos, que aconteceu em Curitiba, no Paraná.

Ao utilizar a romã como base de um experimento em células intestinais, Fernanda notou sua excelente atuação contra tumores. "Algumas substâncias da fruta barram moléculas que danificam a estrutura celular, desencadeando o câncer", diz ela. A cientista atribui essa proteção principalmente a um trio de ácidos: o gálico, o elágico e o protocatequínico. Além deles, há doses concentradas de antocianinas — substâncias reconhecidamente anticancerígenas que, aliás, lhe conferem a cor avermelhada. Esse poderoso mix já chama a atenção de outros cientistas do Brasil e de diversos centros de pesquisa mundo afora. "Estudos também associam a romã à diminuição do risco do câncer de próstata", conta a engenheira de alimentos Gláucia Pastore, professora da Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp. Nos Estados Unidos, um trabalho da Universidade de Wisconsin feito em ratos com esse tumor mostra que o extrato da fruta ajuda a brecar a multiplicação das células malignas.

ARTÉRIAS BLINDADAS

Outras experiências atribuem ao fruto da romãzeira uma proteção maior contra males cardiovasculares. Nessa linha, uma das descobertas mais recentes foi publicada no periódico científico Atherosclerosis, da Sociedade Européia de Aterosclerose, com sede na Suécia: a romã ajuda a reduzir os teores de colesterol. Médicos examinaram os níveis da gordura no sangue de 20 voluntários, antes e após o consumo diário do suco da fruta, e, assim, notaram que houve uma significativa queda do LDL, a fração do colesterol associada ao entupimento dos vasos.
Os benefícios para o peito não param por aí. "Há indícios de que os ácidos gálico e elágico defendam a parede interna dos vasos, que nós chamamos de endotélio", diz Fernanda Archilla. No final das contas, a dupla diminui a probabilidade de surgirem os temidos infarto e derrame.
Em outra de suas investidas, Fernanda Archilla deparou com moléculas chamadas ácidos graxos punícicos. "Essa designação deriva do nome científico da romã, Punica granatum", explica. Os ácidos graxos só enfatizam a crença de que o fruto é mesmo capaz de dar um chega-pra-lá em males do coração. Isso porque estão ligados à diminuição das taxas de colesterol.

Para os cientistas, o fato de a romã reunir tantas substâncias benéficas não é mera coincidência, e sim conseqüência direta das adversidades de clima que seu pé enfrenta no habitat nativo. "Por ser natural de áreas praticamente desérticas, teve que se adaptar às mudanças bruscas de temperatura", conta Fernanda Archilla. Os componentes antioxidantes, no caso, serviriam para minimizar os danos da variação entre o calor escaldante do dia e o frio extremo da noite. Assim como o bom estoque de gorduras em suas sementes. Sem essa química, a germinação se tornaria difícil e a espécie simplesmente desapareceria do mapa. Apesar de tantas qualidades, não é recomendável exagerar no consumo. É que a fruta concentra alguns componentes que podem atrapalhar a absorção de nutrientes e até mesmo causar desconforto gástrico.

Para contornar esses transtornos, vale apelar para alguns truques. Na preparação do suco, por exemplo, a sugestão é juntar água para que fique menos concentrado. Outro jeito de ingerir a fruta em pequenas porções é salpicá-la em saladas e usá-la como ingrediente de molhos, inclusive para sobremesas. "Mas, atenção, os componentes da romã só se conservam se ela ficar pouco tempo no fogo", ensina a nutricionista Cynthia Antonaccio, de São Paulo. Aliás, é claro que a fruta in natura é uma ótima pedida. "A romã é sempre muito bem-vinda em festas. Afinal, o tempo que a gente leva para separar as sementes e comê-las nos impede de atacar outras delícias calóricas", brinca a nutricionista Neide Rigo, da capital paulista.

ENFEITE DE QUINTAL
Originária do Oriente Médio, a romãzeira veio parar no Brasil pelas mãos dos portugueses. A árvore, que pode atingir até 7 metros, gosta de clima quente. Por essa razão se deu bem em várias regiões do país. Infelizmente ainda aparece mais no jardim do que em copos e pratos. "Muita gente nunca experimentou a romã", lamenta a farmacêutica Fernanda Archilla. Geralmente a frutificação acontece entre os meses de setembro e fevereiro. Portanto, se você se animar, esta é a hora.H


FRUTO PRÓSPERO

A quantidade de sementes que se acumulam na polpa da romã explica por que se tornou símbolo de prosperidade. Na Grécia antiga, as mulheres costumavam ingeri-la em cerimônias religiosas para evocar fertilidade e fartura. Aqui no Brasil, no Dia de Reis, que é celebrado em 6 de janeiro, existe o costume de chupar meia dúzia de sementes e guardar os caroços na carteira para garantir dinheiro o ano todo. Em tempos difíceis tudo é válido.

1. POLPA - As sementes são como verdadeiras jóias guardadas em cápsulas. Belas e aromáticas, retêm a maior parte dos compostos benéficos.
2. MESOCARPO - A parte branca que envolve a polpa concentra montes e montes de tanino, uma substância com potente ação adstringente. Não é aconselhável ingeri-la, já que o sabor não é nada agradável.
3. A CASCA - Há dois tipos de romã: a amarelada, originária do Oriente Médio e facilmente encontrada por aqui, e a rosada, que surgiu no Canadá e é menos abundante em terras brasileiras. Ambas são igualmente ricas em nutrientes.




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